A música é um dom que se exerce para levar alegria aos outros. É assim que o gaiteiro Sebastião Bueno, 59 anos, funcionário da manutenção do Frigorífico Silva, vai dedilhando um pouco da sua história com as sonoridades do acordeão, que começou a tocar aos 12 anos, ainda em Quevedos, quando este ainda era parte de Júlio de Castilhos.
O mestre de Sebastião foi o irmão mais velho que lhe apresentou a vaneira ”O que tem a rosa” (autoria de Antenor Serra, o Serrinha, em 1952. TV Cultura, F.P.A.), popularizada por intérpretes do sertanejo raiz e grupos musicais gaúchos, para encantar os fandangos tão apreciados pelos diversos recantos do sul do Brasil. O gosto pela vaneira* foi sendo aprimorado com o tempo, aprendido “de ouvido”, como diz Sebastião, pois este não tem língua: “se a letra é regional, a música é universal”.
O gaiteiro é associado do SINTICAL, desde 2010, época que começou a somar troféus pelo seu talento nos eventos da entidade. Nesse ano, levou o primeiro e o terceiro lugar no Musicanto, uma das modalidades da Olimpíada do Trabalhador e da Trabalhadora da Alimentação, promovida, anualmente, pela Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação do Rio Grande do Sul (FTIA/RS).
O primeiro prêmio foi pela interpretação de “Acidente Campeiro” (Leonardo, Vivências.v.1, 1994). Em 2011, arrematou mais dois prêmios, ficando em terceiro lugar, nas categorias imitação e música inédita com “Não acredito em assombração” de sua autoria. Em 2015, levou o quarto lugar, na categoria imitação e inédita. Todos esses troféus contribuem para abrilhantar a galeria da entidade, que, segundo Sebastião, tem sua importância pelo compromisso com a categoria, “puxando sempre pelo trabalhador”.
O talento do gaiteiro, entretanto, se espalha em muitos espaços, das domingueiras, dos fandangos e das festas familiares. Integrante da “Banda SBR” – Sebastião Bueno e Romário – e da “Tranco de Vaneira”, também acompanhado do irmão Vitalino Bueno, mostra a sua versatilidade em apresentações que misturam o gauchesco e o sertanejo, entre outros gêneros musicais.
Ainda assim, Sebastião diz que a música para ele é um “hobby”, e que até já pensou em “parar”, proposta que não encontra eco no seu público formador. Sua mãe, Dona Basília Pereira Bueno, 91 anos, é a primeira a questionar. ”Não para, é bonito”, pedido que é seguido por toda a família, amigos e fãs que compartilham das suas cantorias nos bailes da vida.
*Vaneira ou vanera. O termo que é sinônimo de ritmo e de dança sul-rio-grandense aparece com essas duas grafias e tem suas matrizes em músicas de origem germânica e cubana, habanera. Apresenta variações: vaneirinha, ritmo lento, vaneira: ritmo moderado e vaneirão: ritmo acelerado.